30 de maio de 2014

Cilada - Harlan Coben

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(Título original: Caught
Tradutor: Marcelo Mendes
Editora: Arqueiro
Edição de: 2010)

Ninguém pode escapar das próprias mentiras.

Haley McWaid tem 17 anos. É aluna exemplar, disciplinada, ama esportes e sonha entrar para uma boa faculdade. Por isso, quando certa noite ela não volta para casa e três meses transcorrem sem que se tenha nenhuma notícia dela, todos na cidade começam a imaginar o pior.

O assistente social Dan Mercer recebe um estranho telefonema de uma adolescente e vai a seu encontro. Ao chegar ao local, ele é surpreendido pela equipe de um programa de televisão, que o exibe em rede nacional como pedófilo. Inocentado por falta de provas, Dan é morto logo em seguida.

Na junção dessas duas histórias está Wendy Tynes, a repórter que armou a cilada para Dan e que se torna a única testemunha de seu assassinato. Wendy sempre confiou apenas nos fatos, mas seu instinto lhe diz que Mercer talvez não fosse culpado. Agora ela precisa descobrir se desmascarou um criminoso ou causou a morte de um inocente. 

Nas investigações da morte de Dan e do desaparecimento de Haley, verdades inimagináveis são reveladas e a fragilidade de vidas aparentemente normais é posta à prova. Todos têm algo a esconder e os segredos se interligam e se completam em um elaborado mosaico de mistérios. 


Palavras de uma leitora...


" Foi então que Marcia sentiu uma pequena pedra se formar no peito. [...] Sentiu-a crescer quando examinou a escova de dentes, depois a pia e o boxe. Tudo absolutamente seco. [...] Mais ainda quando, 48 horas depois, o FBI foi chamado. Mais ainda quando uma semana inteira se passou sem que eles tivessem qualquer notícia da filha. 

Era como se Haley tivesse sido tragada pela terra.

Um mês se passou. Nada. Depois dois. Nada também.
Já haviam se passado quase três meses quando enfim eles receberam a notícia - e a pedra que havia se formado no peito de Marcia, a pedra que não a deixava respirar ou dormir durante a noite, parou de crescer."

- Haley era uma garota brilhante. O orgulho de Marcia e Ted. A filha que nunca havia dado trabalho, que era inteligente, esforçada, que corria atrás dos próprios sonhos, nunca desistindo, nunca se rendendo. A única preocupação que aqueles pais poderiam ter seria com a saudade que sentiriam dela no dia em que a filha fosse para a faculdade, e já não estivesse tão presente como antes. Eles sofreriam com a ausência dela, mas saber que a filha estaria na universidade, construindo sua própria vida, seu próprio mundo, lhes aliviava. Eles jamais poderiam imaginar, enquanto faziam planos para a filha e se preparavam para a partida dela, que Haley iria embora sim. Mas não para a faculdade. Jamais poderia lhes passar pela cabeça que um belo dia acordariam e encontrariam a cama da filha feita e nenhum sinal de que a menina passara a noite em casa. Qualquer outra família não teria se preocupado tanto com isso. Afinal de contas, adolescentes costumavam fazer essas coisas. Sair e esquecer o horário de retornar. Mas não Haley. Jamais a filha deles. Por mais que os investigadores suspeitassem de uma possível fuga, Marcia e Ted sabiam, em seus corações, que algo terrível acontecera com a menina deles. Que existia a possibilidade de que eles jamais a vissem novamente. E era algo que lhes destruía a alma. 


"Eu sabia que minha vida seria destruída se abrisse aquela porta vermelha.
[...] Era impossível afastar a sensação de perigo iminente. Cada passo me custava certo esforço, como se eu estivesse pisando não em uma calçada já um tanto gasta, mas em cimento fresco. O corpo dava todos os avisos: frio na espinha, pelos eriçados nos braços, arrepio na nunca e no couro cabeludo.[...]
[...] Aquilo não me agradava. Nada daquilo me agradava, mas o que eu podia fazer? Eu sou assim."

- Dan Mercer era o herói dos adolescentes desamparados. Órfão, crescera de uma forma bastante instável, passando de casa para casa, de família para família, nunca construindo raízes. Nunca encontrando alguém que realmente quisesse ficar com ele, criá-lo e amá-lo como a um filho. No entanto, apesar de todas as dificuldades e da solidão que o acompanhara durante toda sua vida, ele conseguira entrar para uma das melhores universidades do país e se formara com louvor. Agora passava sua vida trabalhando como assistente social, e apoiando e protegendo diversas crianças e adolescentes problemáticos, vindo de lares destruídos, maltratados por seus próprios familiares, viciados em drogas... Ele era como um anjo para aquelas crianças... até aparecer em rede nacional, surpreendido e acusado por uma repórter de um jornal sensacionalista. Graças a Wendy Tynes, ele era agora visto por toda a sociedade como um predador sexual. Um pedófilo que se aproveitava de sua profissão e do carinho de crianças desprotegidas para satisfazer os seus depravados desejos. Graças a Wendy, a vida de Dan Mercer havia sido destruída. Em todos os sentidos. E a possibilidade de ter causado a morte de um inocente, começa a atormentar a vida dela. Existiria algo por trás dos fatos? Seriam todas aquelas provas nada mais do que uma grande cilada? Ao longo da sua luta pela verdade, Wendy descobrirá que às vezes as coisas não eram exatamente o que pareciam. Que, muitas vezes, nada é o que parece. 

"Muitas vezes na vida somos obrigados a fazer julgamentos que não gostaríamos de fazer. E queremos que eles sejam fáceis. Queremos confinar as pessoas em categorias bem definidas, anjos ou monstros, mas quase sempre o buraco é mais embaixo: a verdade está em algum lugar entre os dois extremos. E esse é o problema. Os extremos são bem mais fáceis."

- Wendy Tynes não fazia aquilo porque gostava da fama, do prestígio que seus flagrantes lhe davam. Não. Ela fazia aquilo porque sentira na própria pele o que um ser humano era capaz de fazer com o outro. O quanto o egoísmo podia ser letal. Se podia fazer a sua parte para livrar o mundo de alguns lixos, por que não faria? Então, ela decidira dedicar-se ao flagrante de pedófilos, determinada a livrar crianças e adolescentes do tormento que tal escória poderia provocar. Mas quando recebe uma denúncia anônima, acusando Dan Mercer de ser o que ela tanto abominava, o choque não poderia ser maior. Uma das poucas pessoas que ela admirava no mundo, provava o que ela aprendera a acreditar: o ser humano não presta. No entanto, quando involuntariamente ela acaba provocando e sendo testemunha do assassinato de Dan, todos os seus instintos gritam que existe algo muito errado naquela história e que talvez, só talvez, ela tenha condenado um inocente à morte. Determinada a encontrar todas as respostas, Wendy decide investigar aquela história por conta própria. Não colocando apenas a sua vida em risco, mas também a vida de todos aqueles que ela ama. Porque existem segredos... que não deveriam vir à luz. Segredos nos quais não se pode mexer. 

Durante suas investigações, Wendy jamais poderia imaginar que a solução para dois casos aparentemente diferentes poderia encontrar-se nos segredos de um passado aterrorizante. Um passado do qual muitos tentaram fugir, mas que voltava para cobrar uma dívida. Porque ninguém consegue escapar do passado antes de quitar suas dívidas com ele...

"Era isso o que pessoas [...] não conseguiam entender; a fragilidade do mundo. As feridas que uma guinada do destino é capaz de abrir. O poço do desespero em que somos jogados por conta de um descuido qualquer. A irreparabilidade das coisas. 

- Eu tenho pavor da internet. Sempre tive pânico da internet, mas por diversos motivos diferentes do pânico que esse livro me provocou. Nunca antes tinha me passado pela cabeça o quanto a internet pode ser letal. Claro que não sou ingênua, claro que sei que muitos crimes são cometidos e facilitados pela internet, mas lendo Cilada eu acabei descobrindo uma outra face desse lado obscuro da internet. Algo que muitos já deveriam saber, mas que eu não sabia. Porém, meu medo da internet não é nada comparado com o terror que o ser humano me provoca. Eu poderia viver cem anos e ver de tudo neste mundo, mas ainda assim seria capaz de me surpreender. Seria capaz de ficar chocada ao ver mais uma demonstração de crueldade, egoísmo e insensibilidade. Vendo o que vi neste livro, eu fiquei chocada. Não porque não achasse possível alguém fazer tal coisa, não porque não esperasse tal resultado, mas sim porque são coisas que jamais conseguirei entender ou aceitar. É demais para a minha cabeça. E pensar que tudo acontece porque não conseguimos enxergar algo além de nós mesmos. De nossas próprias vontades, de nossas próprias vidas, de nosso próprio futuro. Mas acima de tudo, as coisas acontecem como acontecem nesta história, porque amor (e todas as consequências dele) passou a significar nada mais do que uma palavra sem sentido.


"Não é assim que as coisas funcionam. Às vezes... ou quase sempre... não existe um porquê."

- Esta história me perturbou. Porque embora pudesse adivinhar certas coisas durante a leitura e sempre estivesse esperando pelo pior, não podia imaginar como a história terminaria. Jamais passou pela minha cabeça que tudo tinha acontecido como descobrimos no final. Aquilo me abalou. Embora eu não tenha filhos, me envolvi muito pela história da Haley e me sensibilizei pelo sofrimento da família dela, que já estava há vários meses sem sequer uma só notícia da menina deles. Sem saber o que tinha acontecido. Vivendo com a esperança, por mais tênue que fosse, de que a menininha deles fosse aparecer. De que tudo não passara de um pesadelo. Por várias vezes eu pude me colocar no lugar da Marcia e imaginar o quanto era difícil para ela levantar dia após dia e lembrar que a filha não estava lá. Que ela poderia estar em qualquer parte do mundo, sofrendo todo tipo de horror, chamando pela mãe, pedindo a sua ajuda. É um desespero que não se deseja nem para o pior inimigo. E desde o início eu torci, mesmo que soubesse que as chances eram mínimas, para que a Haley aparecesse. Para que houvesse uma explicação para o seu desaparecimento. E que não fosse a pior. Que ainda houvesse esperança para aquela família. Que tudo voltasse ao normal. E quando toda a verdade é revelada, meus sentimentos ficam muito bagunçados. Até agora não consegui organizá-los. Não sei bem o que sinto. E não sei se um dia conseguirei descobrir. 

- Uma das personagens mais marcantes desta história, é a protagonista. Wendy Tynes no início não despertou muito a minha atenção. Mas quando ela começa a "se meter onde não havia sido chamada" (risos) torna-se uma personagem profundamente envolvente e corajosa, capaz de despertar a nossa admiração e também o nosso medo. Afinal de contas, não é um romance com promessa de final feliz. Começamos essa leitura (ainda mais quem já conhece os livros do autor) temendo sempre o pior, imaginando que nada é garantido e que tudo pode se perder de uma hora para a outra. Inclusive a vida dos personagens que amamos. Eu aprendi bem essa lição ao ler Confie em Mim. Não esquecerei.rsrs... No entanto, é impossível não nos apegarmos à Wendy. Ela não necessitava se meter naquela história toda, buscar respostas que ninguém tratava de buscar. Todos tinham aceitado as coisas como elas se mostravam e, ironicamente, tinha sido justamente nossa mocinha quem tinha provocado aquela "visão" dos fatos. Mas ela sentia que algo se escondia por trás de tudo aquilo. Que existia algo oculto e terrível ali, algo que precisava ser descoberto. E quando ela começa a colher as consequências de sua procura por respostas, nosso coração dispara e parar a leitura para fazer qualquer outra coisa torna-se algo impossível. Eu lembro que tinha um trabalho muito importante para concluir (e entregar justamente hoje) e tinha que interromper a leitura para terminá-lo. Justamente na melhor parte. No momento mais eletrizante da história. Tive que me forçar a fechar o livro para pegar a droga do trabalho para fazer, mas o tempo inteiro o livro permaneceu bem do meu lado enquanto eu olhava com cara feia para o trabalho, desejando fazê-lo em pedacinhos por estar atrapalhando a minha vida.rsrs... E antes mesmo que tivesse terminado o trabalho, já estava colada ao livro novamente, sem sequer saber o exato instante em que larguei tudo para voltar a lê-lo. Quando eu dei por mim, já estava com o livro nas mãos, devorando-o como se minha vida dependesse disso.kkkkk... O Harlan Coben sempre consegue fazer isso comigo. Me prende de uma forma impressionante aos livros dele, até mesmo quando eu quero (ou preciso) abandoná-los.rsrs... 

- Não há mais nada que eu possa dizer sobre a história sem revelar os segredos. Toda vez que termino a leitura de uma história do autor, penso que as respostas sempre estiveram escritas desde a primeira página. Que tudo sempre esteve dito e que o autor só fez por onde dificultar a nossa visão. E com Cilada não foi diferente. Quando lembro de tudo que li, desde o princípio, percebo que os segredos já haviam sido revelados antes. Que todas as pistas estiveram lá e que eu apenas não consegui enxergar isso. Nenhum segredo é de fato revelado no final. O autor apenas junta as respostas. E, apesar de tudo, eu amei a forma como o livro terminou.rsrs... Só lendo vocês entenderão o motivo. 

E como a sinopse mesmo diz:

"Harlan Coben mais uma vez deixa o leitor sem ar. Cilada fala de culpa, luto e perdão em uma trama repleta de reviravoltas surpreendentes. Nada é o que parece e tudo pode ser desfeito até a última página."

- É difícil encontrar uma sinopse tão completa e verdadeira como essa. Geralmente, nem confio muito nas sinopses, pois as coisas nem sempre são como são mostradas na sinopse. Mas neste caso, podem confiar. A sinopse é fiel à história e a resume maravilhosamente bem. Quem dera que todas fossem assim!rsrs...


"O que quer que tenha restado de mim, o que quer que houvesse de bom, acabou. É isso o que a vingança faz. Ela corrói a nossa alma. Eu nunca deveria ter aberto aquela porta."

Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

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